Nota de Pesar

O Poeta nasceu em Barreirinha, no interior do Amazonas, e foi um dos poetas mais...

É com profundo pesar que a Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura (SEMEEC), lamenta o falecimento do poeta amazonense Thiago de Mello, aos 95 anos, nesta sexta-feira (14).

Thiago de Mello nasceu em Barreirinha, no interior do Amazonas, e foi um dos poetas mais conhecidos da região, influente tanto nacionalmente quanto internacionalmente.

Suas obras foram traduzidas para mais de trinta idiomas. Seu poema mais conhecido é ‘Os Estatutos do Homem’ (leia o poema abaixo), em que o poeta chama a atenção do leitor para os valores simples da natureza humana.

Em setembro de 2021, a 34º Bienal de São Paulo homenageou Thiago de Mello. O verso que inspirou a bienal, ‘Faz escuro mas eu canto’, é parte do poema ‘Madrugada Camponesa’.

Thiago vai nos deixar muitas saudades, mas como ele mesmo dizia “A cada instante morremos, dessa morte renascemos”, Poema de nossas mortes, deixa-nos a inspiração através das letras, das canções, poemas e poesias da Literatura Pan-Amazônica.

Secretaria Municipal de Educação, Esporte e Cultura

Prefeitura de Tefé – Governo do Povo


Thiago de Mello
 
Os Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony
 
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
 
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 
Artigo III 
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
 
Artigo IV  
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
 
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
 
Artigo V 
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
 
Artigo VI 
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
 
Artigo VII 
Por decreto irrevogável fica estabelecido 
o reinado permanente da justiça e da claridade, 
e a alegria será uma bandeira generosa 
para sempre desfraldada na alma do povo.
 
Artigo VIII  
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
 
Artigo IX  
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.  
Mas que sobretudo tenha 
sempre o quente sabor da ternura.
 
Artigo X 
Fica permitido a qualquer  pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco.
 
Artigo XI  
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama 
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
 
Artigo XII  
Decreta-se que nada será obrigado 
nem proibido,
tudo será permitido, 
inclusive brincar com os rinocerontes 
e caminhar pelas tardes 
com uma imensa begônia na lapela.
 
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
 
Artigo XIII  
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
 
Artigo Final.  
Fica proibido o uso da palavra liberdade, 
a qual será suprimida dos dicionários 
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre 
o coração do homem.
 

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